É certo que a pandemia do Covid-19 é uma das mais graves crises sanitárias da nossa história. Mais certo ainda é que não escolhemos entrar nessa crise. As perdas se acumulam a cada dia e são imensas: perdas materiais e, principalmente, perdas humanas.
Embora seja difícil admitir, o momento também é de oportunidades e de mudanças. Muita coisa foi acelerada. Mudanças e adaptações que levariam anos, aconteceram em poucos meses.
Exemplo disso é o home office. A grande maioria das empresas não tinham experiência e nem intenção de utilizar. Na Unimed Fortaleza, de um dia para outro, tivemos que colocar aproximadamente 900 pessoas nesse regime totalmente novo e desconhecido para nós.
Outro exemplo é a velocidade com que as vacinas estão sendo desenvolvidas. Algo nunca visto antes.
Quando olhamos para o universo das organizações, a impressão que tenho é que o mundo vinha se preparando para esse difícil período nos últimos anos. Temas como cultura organizacional, liderança humanizada, aprendizado com os erros, testagem do novo, resiliência e inteligência emocional vinham ganhando força a cada dia. E tudo isso é o que tem sido necessário se usar e tem conseguido salvar muitas empresas e muitos de nós.
Como presidente da Unimed Fortaleza, uma cooperativa e operadora de planos de saúde, vivendo desde o início intensamente esta guerra, coloquei como mantra que nós teríamos que sair dessa crise “vivos e viáveis”. Além de atravessá-la, nós deveríamos ter plenas condições de continuar funcionando e crescendo.
Para isso, a primeira coisa seria cuidar do caixa como nunca. Aprendi com um amigo, Valdelírio Soares, que o lucro é o alimento da empresa e o caixa é o ar. Morre-se primeiro por fome ou por falta de ar? Desde cedo, ficou claro que a Covid-19 mataria não só as pessoas por “problemas respiratórios”, mas mataria também muitas empresas.
Por isso, muitas ações e atitudes estão sendo fundamentais para permanecermos vivos e viáveis:
Antecipação: nunca menosprezamos os riscos dessa situação. Compras de medicamentos e equipamentos, ampliação de estruturas, contratações e várias outras ações sempre foram tomadas com bastante antecedência e margem de garantia. A orientação era “vamos nos preparar para o pior e torcer pelo melhor”. E isso tem feito toda a diferença.
Ao lado da antecipação, há a necessidade de rapidez nas decisões. Na guerra, não dá para demorar a decidir. Quase sempre as pessoas esperam que o líder tome a decisão. Então líder,DECIDA!. E esteja ciente que depois da decisão quase sempre aparecerá alguém com uma “sugestão melhor”. Não se angustie. Já passou. O time é outro.
Aprender com o novo: tem uma frase que me acompanha desde o início da pandemia, que diz “se você está entendendo tudo o que está acontecendo, é porque não está prestando atenção”. Tivemos que lidar com muitas situações totalmente novas. A utilização do ELMO, capacete desenvolvido no Estado do Ceará, que permite alto fluxo de oxigênio e que passou a ser utilizado com muita frequência a partir de dezembro de 2020 com resultados bastante expressivos, é exemplo disso.
Em cima desse “novo”, tivemos, também, que aprender com os erros. No entanto, na velocidade em que as coisas estão acontecendo, não dá para se agarrar a esses erros. O foco é aceitar, entender, corrigir e não repetir. Pessoalmente, no início da pandemia fui para a TV e disse aos nossos clientes: “se você tiver sintomas, fique em casa. Só procure o hospital se tiver sintomas graves”. Então, muitos pacientes só iam para o atendimento quando estavam muito graves. Rapidamente, tivemos que corrigir essa orientação.
E, quanto aos líderes, como esses foram desafiados! Se liderar de perto já é desafiador, o que dizer à distância, por vídeo-chamadas? Manter a cultura das organizações está sendo um dos maiores desafios dos líderes e das organizações.
Nesse contexto, algo ficou ainda mais claro para mim: o principal papel do líder tem sido CUIDAR. Cuidar das pessoas certas nos lugares certos. Cuidar para que as pessoas possam ter algo fundamental em todos os momentos, mas, em especial, num período tão difícil e complexo como esse: CONFIANÇA.
As pessoas não têm adoecido somente por conta do Covid. Doenças como depressão, ansiedade e estresse têm aparecido com uma incidência cada vez maior, até mesmo assustadora. E especialmente nessas situações, o cuidado é algo fundamental, preventivo e terapêutico.
Por tudo isso, nunca foi tão importante liderar pelo exemplo e para todos, com clareza e transparência, através de uma comunicação clara, frequente e transparente, informando a todos sobre tudo. No meio dessa guerra, as pessoas se encontraram perdidas e, em muitos casos, trancadas em casa, sem saber o que de fato estava acontecendo, em todos os sentidos.
Por fim, algo salvador para quem está vivendo tudo isso: o tal do PROPÓSITO DE VIDA. O “PORQUÊ” de se fazer o que se faz. Ter muito claro esse propósito tem sido o meu principal motivador e combustível para me levantar todos os dias, para me manter firme nessa luta, para levantar após todas as quedas, para continuar até o final, com a certeza de que vamos vencer, com a certeza de que VAI DAR CERTO!